O começo de tudo.

No início... Bem no início de minha caminhada, me fora apresentada uma tal de leitura. Me enrolei em seus sentidos, e debruçada diante de todas as brilhantes maravilhas que me proporcionava, eu me mantive. Quando senti, longinquamente o consciente exigir mais, me ergui e me pus a desbravar um mundo de curiosidades. Tropecei em uma técnica de expressão chamada escrita. Desde então, passei a aderi-la.
Foi quando decidi, obstinadamente, que esta deveria ser o meu refúgio particular. E de lá para cá, confesso, venho realizando descobertas inimagináveis. A prática contínua da escrita, me fez adentrar e conhecer mundos dos mais variados tipos que existem. Só então percebi que não se pode limitar a imaginação. É tudo muito maior do que se parece. E abusando disto que chamo de dom, cheguei à seguinte conclusão: Ler, não é somente adquirir conhecimento; Escrever, é mais do que dar rumo ou designar acontecimentos, é possuir o controle do mundo e ter o poder de fazer deste, o que quiser.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Em Busca de Um Sonho



Vou começar a falar de uma garota cheia de sonhos. Muito simples, a principio, mas sonhadora. E sem querer algum tipo de intimidade com você, vou te confessar algo. Algo que não deveria falar, mas é necessário que saiba. Esta garota de quem falo é alguém que fui a muito tempo.
Costumava sonhar alto, desejar o indesejável, querer, o que na época, era impossível de se conseguir. Mas resistia às tentações, embora fosse difícil suportar minhas necessidades.
Sempre vivi em uma pequena e pobre cidade no interior da França, e de lá nunca saí. Nunca ousei desafiar minha condição financeira. Mal dava para arcar com as despesas no Sul. O que diria na região nobre do país? Pois então. Naquele tempo, estava no auge da minha adolescência. Fase esta, em que passei todo o meu tempo me dedicando aos estudos, devido aos meus planos que sucediam o término do meu ano letivo numa escola publica, na qual custei a me adaptar.
Infantilidade: um carma duradouro. Outrora decidi me isolar por causa da criancice em excesso. Mas passou, felizmente.
Como todos da minha idade, eu só queria curtir o momento. Mas nada de namoricos, brincadeiras toscas ou qualquer tipo de modalidade juvenil. O que eu queria mesmo era desfilar. Meu sonho de vida.
A pressa era o grande problema que me impedia de conquistar os objetivos mais urgentes que possuía. E acabava me esquecendo de que precisava de todo um preparo físico, financeiro e também psicológico para investir nesta carreira. Ok, eu só sabia que queria, e acreditava. E isso bastava.
Embora a realidade fosse difícil de ser aceita às vezes, eu vivia sonhando acordada. Talvez tenha mesmo me faltado um pouco mais de senso.
Mas naquela noite, ultrapassei o inadmissível e mergulhei em um mundo totalmente particular. Uma viagem até as profundezas das minhas vontades e desejos, e alcancei o ápice dos meus sonhos. Algo surreal.

[...] “Estava seguindo para a divisa entre a fronteira da França com a Alemanha. Fora um dos meus primeiros passos rumo ao meu grande sonho. Junto a mim estavam algumas outras mulheres, cujas expectativas profissionais coincidiam com a minha.
Me recordei de ter sido selecionada para um teste no Norte da Alemanha, e enquanto tentava controlar toda a minha ansiedade, buscava, concentrada, manter o otimismo em alta, mesmo sabendo que estava competindo com garotas fortes, e que, diferentemente da pessoa que eu era,  elas possuíam total desenvoltura e técnica de comando do próprio corpo – postura adquirida após algumas aulas, incentivos e sugestões de profissionais que já vivenciaram ou praticaram, por vez, a arte de desfilar.
Eu estava, sob tudo, confiante. Sabia que estava. E nada poderia me fazer desanimar. Eu tinha tudo para passar no teste. Meu futuro como modelo estava só começando. A minha sede de fama ainda era precoce, mas a força com que eu estava disposta a atacar aquela oportunidade era incomparável.
Percorríamos o caminho tranquilamente. Algumas moças conversavam entre si, distraídas, enquanto outras mantinham-se concentradas a observar o trajeto que fazíamos. Tudo parecia correr bem, quando as trepidações do ônibus onde estávamos foram duplicando-se, e a velocidade do mesmo parecia ter sido bruscamente aumentada. Precisei me segurar, ou simplesmente seria violentamente arremessada para longe.


Simultaneamente, gritávamos desesperadas. Era fácil de perceber o desespero estarrecedor do motorista que nos pedia, assustado, para segurarmos firme e mantermos a calma. Dizia que estava tudo bem e pedia, alterado, para pararmos com a gritaria. Mas sabíamos que nada estava bem, e por haver algo de errado que o ônibus descia numa velocidade absurdamente alta uma ladeira de mão dupla.
Esforcei-me para não acompanhar de perto a luta do motorista que tentava, de qualquer jeito, parar o automóvel. Não sabia o que pensar. Não sabia distinguir meus sentimentos entre medo, agonia e desespero. Medo. Todos nós sentíamos muito medo.
Ele buzinava, e tão rapidamente alcançamos o quilometro máximo do ônibus, que quando, de relance, notei que alguns metros adiante havia um cruzamento, do qual nos aproximávamos com ainda mais velocidade. Partiam carros dos dois lados da rodovia, o que nos obrigou a segurarmos ainda mais firme nos acentos e apoios.
Sabia que o risco de vida era grande, e tentava, embora muito difícil, esquecer a possibilidade de sair viva daquela situação. Pessimista, eu? Imagine-se na mesma situação!
Antes que pudesse cogitar qualquer ideia, estávamos cruzando uma grande e movimentada pista, e quando abri os olhos, a única coisa que pude ver, foi um caminhão com metros de carga vindo em nossa direção. Consegui me agarrar a uma barra de ferro antes de sentir a colisão entre os dois automóveis e, de forma assustadora, o nosso atrito com o chão após tombarmos por pelo menos quatro vezes sem parar.
Tudo estava girando, minha visão escureceu. Havia barras de ferro em cima de mim. O ônibus completamente amassado. Nenhum som humano além da minha respiração ofegante e descompassada.
Eu não morri.
Não pensei em mais nada além de sair daquele lugar. Rastejei-me por baixo de um banco fora do lugar, notei que o carro, ainda tombado, derramava gasolina. Havia cacos de vidros espalhados, ferro comprimido por toda a parte e nenhuma saída visível. Apoiei-me firmemente em um pequeno apoio e alcancei uma das janelas de saída de emergência. Pensei em lançar o vidro longe, caso estivesse com as pernas fortes o bastante. Mas devido ao excesso de materiais e falta de espaço, fui obrigada a me locomover com dificuldade para o lado oposto de onde eu estava. Doía, e eu sangrava constantemente.
Alcançando, finalmente o outro lado do ônibus, esforcei-me para empurrar o vidro que, por conta do impacto do automóvel, já estava solto.
Quando cheguei do lado de fora, um intenso ardor chegou a mim impetuosamente. O caminhão que estava a apenas alguns metros do ônibus, havia explodido. O que indicava que eu precisava me afastar do local o mais rápido possível. E estava fazendo exatamente o mesmo, quando longinquamente pensei estar sendo chamada. Me reergui, apoiando em qualquer coisa. Esperei e tive certeza de que havia ainda alguém vivo quando a voz me chamou novamente.
Eu tinha duas opções: saía dali de uma vez, podendo continuar em frente e terminar o meu percurso até a Alemanha, ou entraria novamente naquele ônibus, podendo não sair mais.
Uma breve observação fez-me acreditar que naquele momento havia algo mais importante do que pensar na profissão dos meus sonhos: eu tinha que salvar uma vida, precisava sair dali. Após dispersar um breve suspiro, adentrei o automóvel pelo mesmo lugar que havia saído e segui com dificuldade para de onde a voz partia. De principio, não consegui ver ninguém, mas a minha busca continuava, e desesperada, tive pressa de erguer todo e qualquer material que estava na minha frente. Foi quando, surpresa, eu encontrei uma das moças que estavam sentadas ao meu lado, debaixo de um banco completamente destruído. Uma segunda explosão do caminhão ao lado ocorreu, fazendo-me recuar alguns passos, deixando-me ainda mais frágil, ligeiramente amedrontada.
Sabia que não demoraria muito para aquele ônibus também explodir, pois o cheiro de gasolina estava forte, e as chamas flamejantes do outro carro aproximavam-se e estava cada vez mais perto. Eu poderia simplesmente correr, mas não o fiz. A voz que me pedia insistentemente para ajudá-la me fez apressar a tentativa de resgate. Ergui dificultosamente o banco que estava sob a garota e, quando a fitei, estupefata, novamente me surpreendi com o estado em que ela se encontrava. Lancei seus braços em volta de meu pescoço, fechei minhas mãos em sua cintura, apoiei-me fortemente, erguendo-a com a ajuda de meu corpo. Força. Pedi que ela se mantivesse acordada enquanto eu a tirava dali.
Me aproximava da janela por onde consegui sair da primeira vez, mas o ônibus foi rapidamente cercado por enormes chamas. O fato de estar carregando a garota dificultava qualquer ação mais veloz. O ardor aumentava, o desespero se elevava com a mesma intensidade.
Avistei o canto do carro que ainda não estava completamente coberto pelas chamas. Não pensei em esperar para arrastá-la comigo. E, apesar dos materiais pelo caminho, conseguimos chegar do outro lado. Pedi que ela passasse primeiro, pois seu estado, de certa forma, estava pior do que o meu. Ela assentiu com a cabeça e esforçou-se para atravessar a janela. Seguidamente, baixei-me para fazer o mesmo, quando por um átimo, parte da janela caiu sobre as minhas pernas, prendendo-me da cintura para baixo. Com a metade do corpo para fora do ônibus, eu tentava, de todos os jeitos, me livrar daquele pesadelo. Porém... quanto mais eu desejava sair dali, mais rápido as chamas se aproximavam de mim. A garota havia deixado de me ajudar quando de repente caiu fraca, desmaiada.
Eu estava literalmente presa naqueles ferros, já não sentia minhas pernas. Não tinha voz para gritar, e o local onde o ônibus pegava fogo, estava completamente vazio e isolado.
Tão sonhadora como costumava ser, eu também era realista, e sabia que dali não passaria. Antes de desistir completamente, fechei os olhos, imaginando como seria o meu primeiro desfile como profissional na Alemanha, e todos aqueles holofotes direcionados exclusivamente para mim quando eu me tornasse uma modelo famosa em todos os países. Todas as viagens, e todas as oportunidades, a fama, os fãs. Pensei, sonhei mais alguns instantes antes de sentir a ardência das chamas me queimando e vagarosamente me consumindo.
Deixei que um sorriso se formasse em minha face e logo as lágrimas que estavam estacionadas em meus olhos caíram. Senti um longínquo e profundo sentimento de perda se apossar de mim. Um suspiro de satisfação: meu ultimo sinal de manifestação antes de sumir no meio daquela explosão e perder todos os meus sentidos, os meus sonhos... A minha vida.”
E então eu acordei...

Um comentário:

  1. Na hora em que eu estava lendo sobre as tantas explosoes, o menino estourou uma bomba aqi do lado de casa. TIVEMEDO.

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