Logo fez-se silêncio e, posteriormente alguém viera bater à porta. Batidas fortes e raivosas, como que de alguém desesperado.
- Dr. John! Abra a porta, é urgente! Dr. John! – Reconheci a voz exasperadora de Albert, meu sócio-secretário.
- Sim, Albert.
O moço à minha frente já não tinha cor, estava absurdamente pálido.
- A Marcelle, doutor! – Ele tentava, mas não conseguia pronunciar sequer uma palavra.
- Já não lhe disse que não quero que venha me falar a seu respeito? Olhe... tenho mais o que fazer!
Ele me impediu de fechar a porta.
- Mas Doutor, ela está prestes a cometer uma besteira absurda!
O fitei curioso. – Ora, chega desta asneira! – O empurrei para fora do escritório. – Sempre admirei seu poder de me persuadir, Albert, mas desta vez você está indo longe demais com esta história.
Embora não quisesse acreditar em sua palavra, um fio de medo fazia-se crescer em meu interior. O que, afinal, levaria Marcelle a cometer “uma besteira absurda”?, pensei.
- Dr. John, juro por tudo que me é sagrado. Marcelle continua com ameaças a todos os funcionários, e só vai parar quando o senhor for até lá. – Ele continuou, enquanto media forças ao me empurrar através da porta.
Desisti. O fitei com seriedade.
– Dê adeus ao seu emprego caso esta seja mais uma de suas brincadeiras estúpidas. – Deixei o local às pressas, e não pude ouvir a ultima coisa que me foi dita.
Saí em disparada para os elevadores, estavam em manutenção. Segui para a saída de emergência, que me levara para a escadaria principal. Rumei para o 23º andar – visto que ainda estava no 16º.
Sentia-me atordoada, respirava com dificuldade. Ignorei todo e qualquer tipo de cumprimentos que partiam dos funcionários que passavam por mim.
Minha cabeça girava, e eu fazia-me correr. Corria cada vez mais de pressa. O 23º andar estava próximo. Mais uma etapa de degraus e eu finalmente alcancei a sala nº696, onde Marcelle encontrava-se.
- Achei que não viria. – Ela disse, assim que me viu adentrar seu escritório.
- O que pensa que está fazendo? – A indaguei.
- Não é o que estou fazendo, e sim o que vou fazer. – Ela deixou os dois funcionários reféns – que me eram desconhecidos – saírem do local. – Porque não atendeu seu celular? – Continuou.
- Não estou aqui para conversas.
- Oh, sério? Pois acho que estava ouvindo o celular tocar, sentado naquele sofá sujo e de couro velho o tempo todo, e não quis me atender, não é? Vamos, confessa! – Ela me lançou um olhar insidioso. Custei a acreditar que o mesmo partiria dela.
- Marcelle, não tenho nada para falar com você...
- Você não, eu tenho! – Disse, me interrompendo. – Terminou comigo sem ao menos me dar uma chance de me explicar.
- Achou mesmo que eu iria suportar mais uma traição? Pois se achou, estava redondamente enganada! Desse assunto, basta! – Insinuei sair.
- Você não pode me deixar! – Ela jogou-se contra a porta e a trancou. – Temos muito o que esclarecer ainda! – Gritou.
Fechei meus punhos em seus braços, empurrando-a. – Já esclareci tudo o que devia, não tenho mais nada a tratar. Me entendeu? – A chacoalhei. – Me entendeu? Eu não a amo mais! – Estava transtornado. Precisei soltá-la, antes que a machucasse. Ato vão. Desfiz o que ela planejou fazer desde o princípio. Esquivei-me de imediato quando ela sacou um calibre 10mm de baixo da jaqueta preta revestida de couro que vestia.
- Vamos sair daqui agora mesmo e você irá me comprar aquele anel de noivado que me prometeu... Chamei o padre, iremos nos casar em breve. – Sob todas as situações difíceis, nunca a vi reagir de tal forma.
- Você está maluca. Pare de torturar a si mesma. – Disse. – Absurdo! Absurdo! – afirmei, enfático.
-... E depois vamos nos mudar para a Austrália, e então viveremos felizes para sempre. – Seus olhos avermelhados denunciavam um possível uso de alguma substancia forte, tal como uma droga que começara a fazer efeito.
- Pode esquecer! Já não temos mais nada. Acabou! – Bastou eu fazer uma simples menção para ela avançar sobre mim com uma ferocidade inestimável.
Me livrei de seus golpes e a prendi pelos braços, não por muito... Até que senti uma força incalculável atravessar meu dorso. Ela havia feito o primeiro disparo contra mim. Enfraqueci, desisti. Deixei que meu peso caísse sobre ela. Estava queimando. Doía muito.
“Como pôde?”, pensei.
Ainda consciente, a observava me revistar. O que procurava? Sem chances. Sua feição desesperada dizia por si o quanto estava arrependida.
- Me perdoe! John me perdoe! – Baixou-se, tentando ouvir o coração que batia lento dentro de meu peito.
– Eu não queria, juro que não queria. Juro. – Sua voz soava abafada e cada vez mais distante, avisando-me que o fim estava próximo.
Marcelle ajoelhou-se em minha fronte, e como que simultaneamente, apontou a mesma mira em direção à própria cabeça. Antes que eu pudesse sentir o peso de sua culpa cair sobre meu corpo e ver a ultima lagrima que caíra de seus olhos que cerraram-se primeiro, as cores foram se perdendo, tudo escureceu... Acabou. Acabou.

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