O começo de tudo.

No início... Bem no início de minha caminhada, me fora apresentada uma tal de leitura. Me enrolei em seus sentidos, e debruçada diante de todas as brilhantes maravilhas que me proporcionava, eu me mantive. Quando senti, longinquamente o consciente exigir mais, me ergui e me pus a desbravar um mundo de curiosidades. Tropecei em uma técnica de expressão chamada escrita. Desde então, passei a aderi-la.
Foi quando decidi, obstinadamente, que esta deveria ser o meu refúgio particular. E de lá para cá, confesso, venho realizando descobertas inimagináveis. A prática contínua da escrita, me fez adentrar e conhecer mundos dos mais variados tipos que existem. Só então percebi que não se pode limitar a imaginação. É tudo muito maior do que se parece. E abusando disto que chamo de dom, cheguei à seguinte conclusão: Ler, não é somente adquirir conhecimento; Escrever, é mais do que dar rumo ou designar acontecimentos, é possuir o controle do mundo e ter o poder de fazer deste, o que quiser.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cúmplices até a morte


E então estávamos nós três, finalmente, frente a frente. Já não era tempo! Estava prestes a saber a verdade, vindo da boca de Lana, eu presumia.

- Vamos, Lana, diga a ele que você não o ama. – Daniel pressionava-a contra mim.

- Não me ama? O que está dizendo, seu canalha? - “Lana, vamos, diga a este imbecil que ele está enganado. Mostre a ele o porque de termos nos casado. Vamos, minha querida, diga alguma coisa.”, pensei comigo, esperando que ela me fizesse o favor de acabar com aquela tortura.

- Não se iluda, meu caro, ela já fez sua escolha. De nada adiantará agora. Acredite se quiser acreditar.

- Lana jamais decidiria alguma coisa sem antes me consultar. Não é verdade, minha querida? – disse. “Não. Ela não faria nada sem me dizer... Ela não faria isso comigo.

- Pois acho que desta vez ela passou por cima dos princípios do casal e fez. – ele provocava, dissimulado.

Fitei Lana nos olhos, como que implorando para que ela dissesse algo. Ela manteve o silêncio.

- Saia de nossas vidas, seu miserável! Saia antes que eu tenha de lhe expulsar embaixo de tiros! – avancei impetuosamente sobre Daniel. Ele aproximou-se com a mesma velocidade e tentou me atingir com o punho.

- Não! – Lana nos impediu, precisa. – Já chega, vocês dois! – ela se pôs dessa vez entre nós. Diminuiu o tom de sua voz e continuou, dirigindo-se a mim: - John, querido... – seus olhos me fitavam a alma.

- Isso, Lana, acabe com isso de uma vez. Diga a esse paspalho que você foi muito mais feliz comigo e que agora... me escolheu.

Debati-me raivosamente. – Que diabos ele está dizendo, Lana?

Ela chorava. Seus olhos transmitiam uma promiscuidade intolerante, não me davam a certeza que eu precisava. Fitei-a sem esperança alguma, certo de que não teria chance alguma contra Daniel. Foi quando ela confessou: - John... ouça... Daniel e eu... nos deitamos  nos últimos dias... – e escondeu a face entre as mãos.

- Não... Impossível... Não pode ser... –  fitei-a com uma expressão de completa perplexidade, enquanto Daniel parecia estar comemorando por dentro. – Como pôde, Lana? – eu estava consternado. – Como teve a coragem de fazer isso comigo?

- Da mesma forma que ela está tendo coragem de descartar um ser tão inútil como você. O que ela já havia de ter feito há muito tempo. – Daniel continuou, implacável.

- Acha que me atinge com estas suas palavras petulantemente nocivas, teu imundo? Se for isso que está pensando, desista.

- Pobre coitado... – ele riu, ironicamente debochado. – Não sabe o fim que lhe aguarda, John.

- Você deve ter batido fortemente com a cabeça para pensar que Lana o escolheria. Poupe-me de suas piadinhas insanas, seu imprestável.  – Fitei Lana do outro lado da sala. – Vamos, querida... Me diga alguma coisa.

- John... eu já lhe disse...

- Ela me quer, John! Será que você não vê isso? – Daniel insistiu.

- Ora, quanta hostilidade! – o avancei, impetuoso, e com o punho esquerdo acertei-lhe o nariz. Não permiti que ele se levantasse, logo dispersei um chute a altura de seu ombro, inclinando-me para golpeá-lo finalmente... Mas algo me impediu. Espere... O que? Virei para Lana. Baixando o olhar a altura de meu peito tocando no borrão vermelho que havia em minha camisa. Fitei-a, incrédulo e, quase que, sem poder controlar, caí-me de joelhos de fronte para a mulher que segurava entre os dedos a arma que eu carregava na cintura.
Ela me olhou incalculavelmente fria e baixou-se diante de mim.

- John, querido... Me perdoe... eu o amo, sempre o amei... E não poderia permitir que você continuasse em meu caminho.

Lana trouxe sua mão até meu rosto e, aproveitando do resto de equilíbrio que ainda me mantinha ajoelhado, empurrou-me, o que provocou um baque com o impacto no chão.
Não tinha mais forças para falar. Observava-a apenas.

- Lana, não vá, eu te amo... – repetia-me em pensamentos. – Lana! Por favor! – dizia-lhe silenciosamente enquanto lágrimas beiravam os meus olhos.

- Lana... – sussurrei.

- Adeus, John.

Lana se afastou, até que meus olhos não puderam acompanhá-la mais. Sentia-me incapacitado de me mover. Debatia-me descontroladamente por dentro e da maneira mais lenta e dolorosa já sentida antes, a falta de ar me levando... me levando... até a profundidade mais escura e apavorante da inconsciência, da vida que inescrupulosamente me estava sendo tirada.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Parque Dos Esquecidos


Sentia-me cansada, talvez um pouco tensa. Via que a solução para um bom descanso e algumas horinhas de paz e silencio, era ir ao que eu chamava de parque não freqüentado.
Lá tinha tudo o que eu mais gostava: árvores, lagos, plantas e muito, mas muito verde.  Embora eu ainda não compreendesse ao certo o porquê de a prefeitura ter proibido tantas visitas. Era um lugar agradável, afinal.
Já não agüentava mais barulho de máquinas, motores. Sentia-me enjoada quando me punha a pensar em como aquilo me dominada dentro daquela fábrica.

Dia 12/10/05, 18h00. Era véspera do feriado nacional. Saía mais cedo do trabalho, determinada a fazer um percurso diferente dessa vez.
Sem pressa, deixei a fábrica, indo em direção a uma estação de ônibus. Tomei um ônibus tendo como destino, a Praça Albuquerque Boulevard, onde em seu centro, apinhava-se o parque mais frequentado na década de 80, conhecido como O Parque Dos Esquecidos. Não me pergunte, pois também não sei o porquê do nome. Dizem que o motivo é sua beleza tão contemplante e majestosa que nos faz ter quase que um tipo de amnésia quando se tratava dos problemas e preocupações diárias. Complicado de explicar... e entender. Pois bem. De todo modo, devo confessar: amava aquele lugar. Era excepcionalmente arborizado; As árvores muito bem apinhadas e organizadas... cheio de cor e vivacidade. E o melhor de tudo, era tranquilíssimo. Coisa que definitivamente me atraía.

Sem muito chamar a atenção, caminhei em passos lentos até a entrada. Fingi estar observando o canto de ramos florais que havia em frente ao gigante portão do parque. Percebi a distração do guarda e entrei sem que ele percebesse.

“Que bem estar, é outro mundo!”
Aqui me sinto bem, me sinto em casa. Longe de qualquer problema ou tipo de confusão. Permaneci com um leve sorriso no rosto.

“Não entendo. Porque proibir a entrada das pessoas em um lugar como este?”, pensei e sorri inconformada.

Caminhei por entre as árvores, as águas, sob a relva. Apreciando a amplitude esverdeada que me rodeava. Devo lhes dizer, que perdi totalmente a noção da hora. Tudo ali parecia prender minha atenção. Caminhei, seguindo na direção do lago – denominado o mais bonito e limpo da região – sua água era verdinha e cristalina. Acomodei-me em algum lugar em sua beira, debaixo de uma árvore imensa que ali encontrava-se. Era tudo observá-lo!
Sentia-me em paz. Ouvia apenas o barulho das águas a minha frente, o cantar dos pássaros que por ali passeavam e o leve e doce murmúrio das árvores e do vento que soprava lentamente sobre meu rosto carrancudo e cansado.

Devia estar realmente muito cansada, pois não demorei muito e adormeci.
Assustada, despertei. Céus! Já eram 23h00! Levantei-me apressadamente, corri até a entrada do parque. Não avistei ninguém. Procurei algum responsável pela segurança do parque, mas ninguém. Tentei chamar as pessoas que passavam do outro lado da rua, mas era muito longe, não me ouviriam.

“E agora? O que eu faço?”

Caminhei de um lado para o outro sem saber o que fazer. A noite caiu e ficava cada vez mais escura. A única solução que me veio à cabeça era sentar e aguardar até o amanhecer. Talvez conseguisse sair de lá no dia seguinte.
Sentei-me na grama, que já estava úmida devido ao sereno da noite. Tentei me distrair com algo. Não dava. Não conseguia pensar em outro coisa além de sair dali. Comecei a ficar assustada, um desespero que era longínquo se apossou de minha mente fazendo-me pensar no pior.
Levantei-me, voltando a caminhar por entre o parque. O interesse em desfrutar das maravilhas daquele lugar já não era mais o mesmo. Sentia medo.
Procurei um lugar onde eu pudesse dormir. Pequenos barulhos eram suficientes para me aterrorizar. Segui em direção a uma pequena árvore que dava cobertura a um banco revestido por concreto. Estiquei meu avental e me deitei. Ainda sem conseguir dormir, tentava ignorar os sons estranhos que emitiam os animais noturnos.
Pedia, implorava para o tempo passasse logo, mas percebia lentidão. Vasculhei minha bolsa em busca de algo para comer. Haviam apenas os biscoitos que rejeitei no café. Procurei algo que pudesse me distrair naquela noite escura e assustadora. O celular, sem sinal; O rádio, descarregado. Tinha um livro também, mas impossível ler naquela escuridão. Sentia frio. A preocupação me invadia o interior.
01h30 da madrugada. Eu tinha sono. Me deitei no banco, ansiosa para que chegasse o dia seguinte. Felizmente adormeci.
Não tive uma noite boa; me mexia e remexia de um lado para o outro. Concreto não era nem de longe um lugar confortável para se dormir. Mas eu não tinha opção.

06h00 da manhã, 13/11/05. Já estava claro. O celular dentro da minha bolsa despertou, indicando meu horário de sair para trabalhar. Quando me dei conta, não estava em casa. Peguei minhas coisas e saí em disparada para a entrada do parque. Para a minha tristeza, não avistei ninguém. Nem carros passando na via a frente. Não havia sequer algum guarda que costumava rondar por ali àquela hora. Ninguém! Claro... era feriado. Dia de pessoas dormirem até tarde. Ninguém sairia de casa antes das 10h00. Céus!

Sentia dor por todo o corpo. Punha-me a pensar em algum jeito de sair dali. Olhei para o portão. Alto demais. Nem as árvores conseguiriam me levar até lá em cima. Entristeci. não havia outro jeito, a não ser esperar.
Avistei uma pequena trilha, a qual não tinha visto antes ou notado quando entrei naquele parque. Aproximei-me e encontrei uma placa. Estava embaçada, era impossível ler o que havia escrito. Três pontos de exclamação apenas visíveis. Não dei importância. Segui-a em frente. Não constei nada de novo... Apenas árvores, árvores e árvores. Estranho. Aquela parte do parque não era como as outras.
Aproximei-me rapidamente do lugar. Via manchas vermelhas nos troncos que havia no chão.
“O que poderia ter acontecido?”
Havia objetos espalhados: um diário, um par de sapatos, canetas, um espelho, e um celular sem bateria. Aqueles pertences foram deixados ali por alguém. Mas quem?
Aquela era uma área reservada do parque; talvez a placa estivesse querendo nos alertar sobre isso. Havia manchas nos objetos também. Peguei o diário e abri-o rapidamente. Ao mesmo tempo, senti um vento forte bater e me arrepiar inteira.
Apanhei o restante dos objetos que estavam no chão. Comecei a ouvir ruídos estranhos. Pensei que fosse o meu estomago, me enganei. Eles continuavam... e me assustavam. Peguei o caminho de volta, deixando aquela trilha para trás.
Ao passar em frente a entrada do parque, ainda não avistei ninguém. Já era 08h00 e nada.
Sentei-me na grama, curiosamente abri o diário. Pelo que via, era de uma adolescente. “Mas por que ela o esqueceria justo aqui?”, pensei.  Li com atenção e algo nas ultimas páginas fez um fio de medo percorrer meu corpo.
Ali constava que a adolescente esteve presa naquele parque durante três meses. E acompanhava a seguinte frase: “Cansei de esperar por ajuda. 13/01/06”.

“Céus, é recente! Onde estará ela agora? Estará viva?”. Levei minhas mãos ao rosto, sentindo uma vontade imensa de chorar.
10h45 e as ruas estavam desertas. Parecia não haver mais ninguém daquele lado da cidade. Região vazia! Comecei a perder as esperanças e pensar no pior, como vinha fazendo. Por um instante, deixei o diário de lado. O espelho!  Estava quebrado e também com manchas vermelhas. Atrás, a frase: “Já esperei demais. 20/04/06”.
O sapato, sujo, com as mesmas manchas vermelhas. Em sua borda, a mensagem: “Fui vitima de esquecimento. 27/07/06”.
Canetas... apenas sujas. Já não pegavam mais quando as testei. Celular, totalmente sem bateria. Não ligava mais. Atrás, encontrei a seguinte frase e data: “Fiz uma chamada de emergência, mas não fui atendido. 30/10/06”.
Tudo passou como um rápido flashback em minha cabeça. Com esses objetos em mãos, depois de tê-los analisado, pude ter certeza de quatro coisas: Primeira: mais de duas pessoas já estiveram presas aqui nesse parque; Segunda: essas manchas vermelhas... nada de tinta, era sangue seco, deixado pelos donos dos objetos antes de suas supostas mortes;
Terceira: estas canetas serviram apenas para deixar gravado suas frases e o ultimo dia de suas vidas; Quarta: EU FUI ESQUECIDA!

Agora eu entendia o porquê de tudo aquilo... Não tinha mais motivos para continuar ali... numa espera que nunca seria correspondida.

---
Passaram-se três meses. O guarda responsável pela ronda trimestral voltou novamente para checar todo o local. Coisa que ele passou a fazer após o fechamento definitivo do parque. E conforme sua busca encontrou objetos espalhados por toda a entrada da trilha proibida para visitantes.  Entre cada um deles, mensagens com suas respectivas datas:

No diário: “Cansei de esperar por ajuda” – 13/01/06;
Espelho: “Já esperei demais” – 20/04/06
Celular: “Fiz uma chamada de emergência, mas não fui atendido” – 27/07/06
No sapato: “Fui vítima de esquecimento” – 30/10/06
E por último, no avental: “Cansei de esperar por ajuda, já esperei demais. Precisei de uma chamada de emergência, mas não fui atendida. Fui vitima de esquecimento... assim como todos eles” – 10/01/07.

Prazeres


O pôr-do-sol
O desabafar.
O compreender e o provocar.
A fala mansa
A canção de ninar.
O som que descansa
Ao nos acordar.
O verde das plantas;
O azul do céu
No reflexo do mar.
Antigos costumes,
Novos passa-tempos,
Cantar, correr
Dançar e amar.
Viver.
Se não posso ler,
Sinto-me cega;
Se não posso escrever,
Sinto-me inútil.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Um adeus indesejado


Eu chorava. As lágrimas pesavam ao despencarem dos meus olhos. O pulsar de meu coração tornou-se intensamente explosivo quando seu olhar mostrava-se pronto para expor a verdade – aquela que talvez não pudesse aceitar jamais.
Sentia dificuldade para levar aos pulmões o ar que me faltava; os suspiros eram carregados de medo e insegurança.
O peso de meu corpo parecia ter bruscamente aumentado, elevando-se com a mesma proporção de minha ânsia, minha abstinência de você. Um ímã em meu interior insistia em não funcionar, mesmo quando minha alma clamava pela sua no momento em que pensava você em recuar para ainda mais distante de mim.
O mar de lágrimas que se formara antes, deu lugar a um oceano, onde as águas não davam pés. E estas, mornas, percorriam lentamente minha face ruborizada, até que alcançaram meus lábios, fazendo-me lembrar do quão salgado e desgostoso é o sabor da decepção.
E então você se despediu, obstinada. Ninguém que te fizesse parar. Ninguém que pudesse me salvar.
Existe algo tão mais doloroso do que um adeus nunca idealizado, nunca desejado?
Penso agora que não gostaria de sentir, preferiria não sentir, ao invés de ter que suportar algo que estivesse, todo o tempo, me matando por dentro.
Era sentir, ou sentir. Não tinha opção.
Esse é o preço que se paga, por amar e não ser compreendido. 
"Acho que crescer é isso: aos poucos 
ir dizendo adeus a certas coisas."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

No final da rua deserta

Num edifício preto e branco. Numa esquina descampada. As ruas cinzas, vagas, desertas. Procurava uma pessoa, uma alma que pudesse me ouvir, sem absorver, mas contribuir para que me fosse tirado o peso das dúvidas, da culpa que me acompanhavam. Lá no fundo, longe... bem longe, uma vida. Fardada com ar de autoridade. Pudera me ser útil?
- Ei, seu guarda. Se aproxime, quero lhe falar. – disse, sem a esperança de que seria ouvido.
- Eu sei, sei bem o que fazes aqui. Vieste atrás de respostas. Mas escute, meu caro, buscas no lugar errado. Ninguém pode te ajudar. Soubestes que estiveste perdido em um caminho que nunca, nunquinha deveria ter entrado? Pois ouça... o caminho... Sim, o caminho certo está dentro de ti, busques, desbrave, corra atrás antes que o tempo acabe.
... antes que o tempo acabe.
... o tempo acabe.
... acabe.

E suas palavras ecoavam, até que ao longe, a alma desapareceu.


E agora? Para onde vou? Para onde devo mesmo ir?

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Costume de ser, pensar e agir

Costumava dizer e pensar coisas sem sentido;
Coisas que, nem sempre todos entendiam.
Costumava esperar, esperar tanto
De nada.
Costumava me ferir, me ferir sozinha.
Costumava reclamar de tudo
Por nada.
Costumava a me acostumar
Com o que não devia;
Costumava a esquecer, também
O que não devia.
Costumava querer
O que não podia;
O que eu sabia que,
Não bastava apenas querer,
Pois eu tinha de buscar.
E costumava desistir,
Sem tentar, sem querer,
Sem continuar.
E sabe por quê?
Costumava me entregar
Facilmente ao improvável.
...
Hoje, o improvável vive me dizendo:
“Não passo de fruto dos teus medos. Não ligue para mim. 
Vá, menina, esta é a tua hora. Vá!”
E eu repito comigo mesma:
- Sim, esta é a minha hora.

Memórias


Na casa, as paredes revestidas

Com os quadros que carregam
As provas da vida perfeita que ela levava.
Objetos, dispersos por tantos cômodos.
Bilhetes espalhados por cada canto.
Nos lençóis da cama, as marcas
Do carinho compartilhado; 
Nos estofados, todas as tardes chuvosas,
As noites escuras, os segredos... Os sorrisos. 
Na vitrola, rodava a melodia
Dócil, cuja sinfonia fora sempre
A trilha sonora dos melhores 
Momentos.
Na mente, ah! Neste lugar!
Onde ela pensa, relembra, revive tudo -
Como se não se cansasse.
E nutre a ideia – mesmo que ingênua,
De que ele tornará a girar as chaves 
Na fechadura e trará consigo
Todas as noites o sentido
De sua vida – agora – metódica.
Luta, relutante, insistente
Para esquecer a ideia – a verdade –
De que ele – agora – se fora para sempre. 
Não voltará. 
Ele não voltará nunca mais.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O Expresso



O relógio em Saint Esteban indicava o meu horário de partida. Fazia uma manhã de muito frio em minha pouca populosa cidade francesa. Deixei a casa, levando comigo algumas malas contendo apenas o necessário.
Adentrei o Honda conversível que me aguardava e segui até o lugar de onde partiria, predestinada a passar os meus próximos dias.

- Não acha que está muito cedo para deixar a cidade, senhorita? - O motorista quebrou o súbito silêncio que se formara entre nós. Não gostava de sua ousadia, mas precisava admitir a mim mesma que ele era o único que ainda tinha vontade em dirigir alguma palavra para mim.

- Não. - respondi. - Estou indo tarde. - continuei.
- Penso que seus pais sofrerão com a sua ausência naquela imensa casa.

O fitei, certa de que havia algum tipo de brincadeira de mau gosto, muito mau gosto por trás daquela afirmação que ele fizera.

- Minha mãe sempre foi muito ocupada com a Associação de Beleza na qual ela dirige em Paris, nunca dedicou um minuto sequer de seu tempo a mim. Meu pai... ah, meu pai! Vive preocupado com seus negócios de empresa. Só olhava para mim quando se esquecia de me dar alguma ordem. Acha mesmo que sentirão minha falta?

- A senhorita não deveria dizer isso de pessoas que sempre te deram tudo na vida. - ele disse, firme.

O acompanhei com o olhar, incrédula de tamanha petulância vinda de sua parte. Até que não aguentei e explodi.

- Como ousa dizer isso? De tudo que eles viviam me oferecendo, nada, absolutamente nada estava perto de ser aquilo que eu precisava. Aliás, quem se preocupa com o que eu preciso, não é mesmo? Meus pais nunca passaram de duas pessoas estúpidas, vidradas em suas próprias reputações. Jamais parariam para prestar atenção em mim. - confessei, com lágrimas nos olhos. Nunca pensei que reagiria de tal forma falando sobre o meu relacionamento afetivo com meus pais. Evidentemente, um relacionamento afetivo que não tive com eles.

- Peço desculpas, senhorita. Não foi minha intensão transtorná-la. É apenas que... - ele pausou, entre um relance e outro me olhou pelo espelho retrovisor do automóvel que dirigia. - Eu vim de uma família muito pobre, nasci em uma cidade de pouquíssimos recursos, e nunca tive a oportunidade de usufruir das mesmas coisas que você podia e não fez. Agora, mais do que nunca, vejo que a vida é um tanto injusta com alguns de nós. - apesar do sorriso amarelo que se formou em seu rosto ao fazer aquele comentário, sua feição era de profunda insatisfação e desconforto.
Ele voltou sua atenção ao guarda de trânsito que certamente estava realizando uma blítis. Logo a frente, após uma abordagem, pudemos ver ao longe, um carro em péssimo estado. O acidente deve ter sido o principal motivo de o trânsito ter estado em um processo lento.

Eu sabia que ele não tinha culpa por nada do que aconteceu ou deixou de acontecer em minha vida. Sua objeção sempre contradizia-se à vida metódica que ele aparentemente levava trabalhando para meus pais. Eu o admirava por isso. Costumava me perguntar como ele conseguia sobreviver sob suas ordens, sendo que eu, filha, não suportava nem sequer ser mandada por eles. A especulação que partia de meus pais para com ele, chegava a ser nojenta. Pensei em questioná-lo, mas preferi ficar calada.

- Chegamos. - ele disse.

Apanhei minha toca de lã, bordada por minha querida e falecida avó - Ela era como uma mãe para mim. Sabia tudo que se passava comigo, costumava prever as coisas, antes mesmo de acontecerem. Sempre foi uma pessoa deveras atenciosa. Que falta que ela me fazia!
Fechei meu casaco e saí de dentro do carro. O vento gelado que soprava do lado de fora do automóvel me fazia tremer e arrepiar. Não sabia porque ainda não havia nevado, a temperatura já devia estar abaixo de zero.
Ajudei Sebastian com algumas malas e rumamos para dentro da Estação Ferroviária Central de Saint Esteban.
No relógio, os minutos custavam a passar. Após o check up de minhas bagagens, estava eu, inquieta com o passaporte nas mãos. Mal podia esperar para entrar naquele trem e me ver livre de todo e qualquer tipo de perseguição.
O grande relógio do local marcava 12h00min e o expresso 469 foi anunciado através dos alto-falantes. Rumei para o local de onde sairíam os trens, e junto com um grupo de outras moças, me dirigi até o portão que nos separava do outro lado da estação. Estava a poucos passos da minha tão esperada liberdade de conduta.


Me despedi de Sebastian, apanhei alguns pertences e adentrei o terceiro vagão. Não demorei mais do que cinco minutos para encontrar a cabine com o número que coincidia ao que estava em meu passaporte. Podia perceber outras mulheres em constante movimentação, ora pedindo informações, ora procurando seus lugares. 
Não havia cabimento em toda aquela desordem que se formara ali dentro. Procurar um lugar não era, na maioria das vezes, motivo para tamanha manifestação.
Adentrei o local, logo organizei meus pertences nas duas pequenas prateleiras que haviam no alto da janela de vidro. Empurrei com leveza a porta deslizante, que logo se fechou, amenizando o barulho do lado de fora.
Poucos minutos após, o trem deu a partida. Do Oeste da Europa, eu estava, dali em diante, seguindo para Montpellier.

Havia um bom tempo que eu não sabia o que era ficar sozinha. Embora estivesse rodeada de outras mulheres por todos os cantos, eu estava gostando de me sentir isolada, em paz. Logo o silêncio que predominara estava prestes a me deixar surda. Foram poucas as vezes que tive a oportunidade de viver num ambiente que me fosse tão agradável. Cresci sujeita à poluição sonora do Centro, região oeste da França. Também nunca deixei que as pessoas tivessem a ilusão de achar que este fosse um lugar extremamente calmo. Negativo. Suas características eram totalmente atípicas ao nome que tinha.
Àquela altura já estávamos nos aproximando da região norte. E eu completamente absorta às minhas imaginações. Viajava, não apenas sob aqueles trilhos, mas em pensamentos.
Pensei em algum motivo que fizesse alguém reservar uma viagem como aquela para mim. Um vôo até outra cidade facilitaria tudo. Não por nada, simplesmente pela praticidade. O fato de eu estar num trêm exclusivo para mulheres não me incomodava nem um pouco, aliás, sempre tive um bom relacionamento com todas as que já fizeram parte de minha vida, exceto com minha mãe, é claro. Me sentiria um tanto que desconfortável se estivesse no meio de homens. Mesmo não mantendo qualquer tipo de contato com nenhum deles, só de imaginar, já me sentia mal. Tudo isso devido às lembranças ruins que me atordoavam.
Pelo vidro transparente da janela, eu estava a observar crianças e adolescentes brincando no alto das colinas. Incrível... de minha infância, não me recordo de ter feito qualquer brincadeira sadia, que normalmente todas as crianças faziam. Nem sequer ter praticado qualquer esporte contemporâneo da época. Meus pais sempre foram muito antiquados, e costumavam me transmitir os valores que eles não tiveram. Quando entrei para a escola, já com dez anos de idade, minha mãe fez questão de afastar de mim as únicas crianças com as quais eu tinha contato. Viviam me tratando como um ser de outro mundo. Era como se eu saísse nas ruas e estivesse sujeita a contrair vírus - as pessoas eram os vírus.


Eu não entendia o porque abominavam um relacionamento mais íntimo entre as pessoas nas ruas e viviam me privando de fazer o que eu sentia vontade. Seria algum medo das más influências que poderia ter? Não. Não podia ser. Desde quando proibir é evitar que algo aconteça? Ridículo.
Se dependesse de meus pais, eu seria, eternamente uma pirralha mimada, educada basicamente por profissionais particulares em minha própria casa. Sem cultura, sem conhecimento, sem amigos, sem infância ou adolescência. Sentia vergonha ao me comunicar com pessoas de minha idade. Não costumava estar por dentro dos assuntos. As novidades rodavam por todo o mundo, mas nunca chegavam em mim. Meu vocabulário era culto e desigual.
Tamanho foi o meu constrangimento quando comecei a estudar em casa. Fiquei sem sair na porta até me adaptar à vida doentil que eu passei a ter.
Devido ao meu esforço e dedição, adquiri o conhecimento que levava comigo aonde quer que eu fosse, ninguém nunca se ofereceu a fazer qualquer coisa por mim. Quando completei a maioridade, passei a tentar ser uma pessoa mais independente. Ainda tinha horários para chegar em casa, caso contrário dormiria na rua.
 Não podia chegar deixando transparecer a quantidade absúrda de álcool que ingeria pelas noites, ou ficaria castigada durante uma ou duas semanas. Ainda levava ordens, mas não as seguia. Caso descobrissem, perderia todas as coisas que eu tinha. Coisas, que antes eu zelava muito, mas que já não faziam mais diferença para mim naquele momento.

O garçom servente apareceu, me tirando da reflexão mais intensa que já havia feito.

- Senhorita, o almoço já está sendo servido. Por gentileza, dirija-se até o quarto vagão.

Balencei a cabeça positivamente, levantando, e segui para o lugar informado. Haviam algumas mulheres conversando na porta que separava os vagões. Não me intimidei com os sorrisos amarelos que continham em suas faces e comportamentos insidiosos que partiam das mesmas. Adentrei o quarto vagão, deparando com pequenos grupos de algumas moças sentadas às mesas, com postura pouco mais fina que as demais.
À minha esquerda, havia uma única moça, em uma pequena mesa isolada. Ela me acompanhava com o olhar, enquanto eu seguia até o balcão. Apanhei alguns aperitivos e logo me sentei num lugar próximo ao restante das mulheres. Fitei os dois lados e meu olhar parou, quase que simultaneamente naquela mesma pessoa. Ela me fitou e sorriu. Eu me virei e também não pude evitar o sorriso bobo que se formou em minha face. Quando baixei o olhar novamente para fitá-la, notei que ela já seguia para outro lugar.
Deixei de lado o que eu estava fazendo e a segui. No mesmo instante em que ultrapassei a porta do terceiro vagão, um sinal alto tocou, e logo a moça desapareceu entre as outras mulheres.
Visto que ainda teria mais quatro longos dias de viagem, voltei para a cabine e permaneci, no intuito de dormir e descansar. No entanto, não consegui parar de pensar na misteriosa do quarto vagão. Havia algo nela que me chamou muito a atenção. Eu não sabia o que era, mas estava prestes a descobrir.
Subitamente abri a porta de minha cabine, e sem exceder qualquer movimento mais brusco, saí, em direção ao segundo vagão.

- Você sabe que não pode ficar perambulando pelos vagões a essa hora, não é? - uma senhora com a feição senil me barrou em minha tentativa de atravessar para o outro lado.

- Sim, eu sei. - me calei e continuei seguindo.

- Então por que continua a desobedecer as regras? - ela continuou. Seu jeito exasperador estava começando a me aborrecer. Por um triz não voltei e disse umas poucas e boas para ela.
Decidi continuar no que eu estava fazendo, e vendo que eu não voltaria, a outra desistiu. Pude ouvir a batida de sua porta e seguidamente sua cabine escurecer.
Levei minha mão até a trava e deslizei a porta de vagar, a fim de não chamar a atenção de ninguém. Todo o corredor estava escuro, mas no seu final havia uma única cabine acesa. Caminhei até o seu fundo, procurando em cada lugar escuro, encontrar a misteriosa que havia visto mais cedo. Ora diminuindo minhas passadas, ora aumentando a velocidade. Alcancei a última cabine e lá estava a moça. Com os olhos cerrados e as mãos juntas sob um livro de capa negra, ela parecia descansar. Visto que a porta estava destrancada, a deslizei com pouco mais de cautela e adentrei a cabine. Me dirigi até o pequeno abajur que estava ao seu lado, mas minha incumbência fora pouca, e quando me inclinei para desligá-lo, ela me fitou, deveras assustada.

- O que está fazendo aqui? - ela me indagou.

- Sua luz está acesa, e como não é permitido à essa hora, entrei para apagá-la. – menti. Sequer conhecia as regras para fazer tal afirmação. Me posicionei próxima a porta.

Ela se levantou, indo a um pequeno criado-mudo ao lado e guardou o livro que continha em suas mãos em uma das gavetas.

- A luz - Ela me fitou e se aproximou, sorrindo sarcasticamente. - Sei... - Parou em minha frente, me cercando com os braços.
Dois pequenos passos para trás e eu me senti encostar na porta. Não sabia o que aquilo significava, tampouco o que aquele sorriso sarcástico queria me dizer.

- Ainda bem que sabe... - A fitei, ruborizada.

Ela me olhou sorridente, parecia estar achando graça de minha feição pueril.

- Desirée Carlie. – ela se apresentou.

- Marcelle Claire Chevalier, muito prazer. – gaguejei.

- Bem... Se não se importa, agora eu preciso dormir. - Me deixou, finalmente, livre para me mover para o lado de fora da cabine.

Fiz que sim com cabeça, em momento algum desviando de seu olhar.

- Ah! - A impedi de fechar a porta. - Me desculpe, não quis assustá-la.

Ela me sorriu por trás daquela porta transparente. Me virei e segui até o final do corredor e atravessei o terceiro vagão. Adentrei a cabine e me acomodei.
O que me aconteceu?  – pensei. Desconheci minhas reações anteriores.
Demorei alguns minutos até conseguir dormir, o que me provocou náuseas. Quase não percebi as horas passarem, e quando me dei conta, já estavam me informando o horário que serviriam o café da manhã.
O sinal que tocava todos os dias indicando os diferentes horários que tinhamos para fazer nossas tarefas, era irritantemente ensurdecedor. Especialmente no período da manhã.
Segui para o quarto vagão e me servi com apenas um copo de suco. Não sentia fome. Me sentei. Procurei em cada face feminina aquele olhar perspicaz e misterioso, mas não encontrei. Ela não estava lá. Logo o sinal tocou novamente e então voltamos para as cabines.
Minutos após, pude perceber a velocidade do trêm ser diminuida, e seguidamente darem início a um alvoroço. Coloquei parte do meu corpo para fora da cabine e constatei, portanto, que havia algo de errado no segundo vagão. Ao abrirem a porta, uma grande nuvem de fumaça se dissipou por todo lugar. Saí em disparada, e percebi que ao decorrer haviam chamas flamejantes por toda a parte.
O desespero estarrecedor das mulheres que corriam de um lado para o outro, tentando salvar parte de seus pertences, acabaram por me deixar aterrorizada.
A fumaça me tirava qualquer visão mais precisa do ocorrido. Senti um choque percorrer por meu corpo, quando a imagem da misteriosa se apossou de minha mente. Lembrei de tê-la visto somente na noite anterior. Estranho, tudo estava muito estranho.
Corri, mesmo com dificuldades para me locomover entre as outras mulheres e alcancei a última cabine. Ela não estava lá. Onde poderia estar? Eu não sabia.
- Ali! Tem alguém ali! – uma mulher afirmava com ênfase, enquanto apontava para o lado esquerdo do vagão, o qual estava completamente coberto pelas chamas que se faziam aumentar.
Eu sabia que teria de fazer alguma coisa. Ninguém ali estava tão preocupada quanto eu.

- Se afastem, por favor. Se afastem. – eu pedi. Logo abriram passagem, e num impulso pulei para o outro lado. Entre uma cabine e outra, lá estava Desirée atirada no chão.
Com a feição ruborizada, a pele manchada pelo ardor que a rodeava, ela me pedia para tirá-la dali.
Senti minha nuca ser pressionada, seus braços estavam em volta de meu pescoço. Fechei minhas mãos em volta de seu corpo e a trouxe para o alto. Ela deitou em meu ombro, desacordada.

- Vamos nessa. – tomei distancia das chamas para dentro de uma cabine, e sobressaltei para o outro lado. Rumei para longe dali, me livrando daquele calor infernal. 

O trem parou, num lugar descampado, no meio do nada. Logo um senhor de pele branca e vestes modernas adentrou o vagão. Seu aspecto era culto e alegre.

- Senhoritas. - ele pediu a atenção das moças que conversavam distraídas. - Sou o Sr. Richard Sheerrévon, o maquinista de vocês. Tive algumas dificuldades para parar o trêm, pois estávamos numa velocidade nada razoável. – ele sorriu, animado. Não poderia estar à par de tudo que estava acontecendo no vagão. Sua entonação soava ironicamente aos meus ouvidos. - Espero que esteja tudo bem com as senhoritas.

- Não, não está. -  logo eu disse. Percebendo o meu descontentamento e inquietude, o tão simpático cavalheiro me fitou ruborizado. - Essa moça... Ela foi atingida pelas chamas do segundo vagão. – a pessoa que ainda estava em meus braços me fitou, desentendida. Parecia ainda estar fora de si.

- O estado dela é grave? - ele se aproximou. - Só teremos uma parada daqui a dois dias completos, senhorita.

- Eu não sei. Ela não pronunciou sequer uma palavra depois que a tirei de lá.

- A senhorita se arriscou no meio daquele fogo para salvá-la? - o rapaz me fitou, incrédulo.

O que ele estava pensando? Seria mais um que se deixou levar pela minha aparência sagaz? - pensei.

- Bem, trago comigo alguns materiais de pronto socorro, talvez isso possa ajudá-la. - ele olhou ao redor - Alguém mais está ferida? Ótimo. - o moço se posicionou à porta. - Irei me contactar com meus superiores e voltarei em alguns instantes lhes trazendo notícias.
Como dito, ele não demorou. Voltou, trazendo consigo alguns materiais para uso médico. Por sorte havia uma jovem enfermeira especializada na área, que logo se ofereceu para ajudar.

- Senhoritas, tenho notícias. - O maquinista nos fitou, após atender a um chamado em seu rádio condutor. – O segundo vagão será retirado, e, por isso, algumas das senhoritas que pertenciam a ele, serão transferidas para algumas destas cabines.

Pude perceber um leve sorriso se formar nas faces da moça que, por um motivo já conhecido, ainda se encontrava em meus braços. Eu não sabia o que pensar, tampouco como reagir àquela notícia. Os acontecimentos anteriores ainda me atordoavam.


Aqueles, Inúteis


Sempre soube que tudo tinha um preço.
Mas o que não se sabe, é que
Ele nem sempre é justo.
Uns ganham, outros perdem.
E existem os que vivem na espera.
Não se cansam, não se manifestam.
Não saem do lugar.
Não lutam, não sabem
Qual é a sensação da vitória,
Ou a tristeza do fracasso.
Não entendem e nem se interessam.
Não querem, não planejam.

Não vivem.

O Álibi


Vejo o que estás a procurar.
E sei exatamente o que procuras.
E se procuraste o principal suspeito,
Cuja fidelidade me tem um valor
Inestimavelmente grandioso,
Serei a primeira a descobrir.
Pois sei exatamente o que procuras.
Se esperas, te aquete.
Não ouso revelar.
Estás no caminho certo,
Prossiga.
Comece partindo-me ao meio.
Escavando a profundidade infinita
Dentro de meu peito.
Estou entregue, cuidado.
Vá de vagar.
Eis que vão encontrar –
Estás quase.

O coração, o meu álibi.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cronologicamente, Paixão



Oi, um abraço, um aperto de mão.
Um olhar, um olá. No ritmo de uma canção.
A timidez, objetivada por uma razão talvez desconhecida.
A atenção, uma palavra almejada.
Merecida.
Então veio o sorriso, a insegurança, a alegria.
Empolgação esta, incerta, espontânea.
Com o que se parecia?
O encontro, as desavenças, o entender, em seguida
O compreender.
O talvez. A incerteza. O saber. O esperar.
A verdade. O não se entregar.
O que vem antes?
O se apaixonar.