O começo de tudo.

No início... Bem no início de minha caminhada, me fora apresentada uma tal de leitura. Me enrolei em seus sentidos, e debruçada diante de todas as brilhantes maravilhas que me proporcionava, eu me mantive. Quando senti, longinquamente o consciente exigir mais, me ergui e me pus a desbravar um mundo de curiosidades. Tropecei em uma técnica de expressão chamada escrita. Desde então, passei a aderi-la.
Foi quando decidi, obstinadamente, que esta deveria ser o meu refúgio particular. E de lá para cá, confesso, venho realizando descobertas inimagináveis. A prática contínua da escrita, me fez adentrar e conhecer mundos dos mais variados tipos que existem. Só então percebi que não se pode limitar a imaginação. É tudo muito maior do que se parece. E abusando disto que chamo de dom, cheguei à seguinte conclusão: Ler, não é somente adquirir conhecimento; Escrever, é mais do que dar rumo ou designar acontecimentos, é possuir o controle do mundo e ter o poder de fazer deste, o que quiser.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Depoimento de vingança: a confissão

Estava uma noite escura demais para o verão: as nuvens ameaçavam trovoada e aconselhava-me a ficar em casa; a chuva que avizinhava ia decerto impedir-me de qualquer coisa. No entanto, nunca estive tão decidida a algo em toda a minha vida. Estava tão encorajada, que isso quase me possibilitou entrar em um estado condicional de puro êxtase.
Bati a porta do carro e dei a partida, rompendo as curvas sinuosas daquela estrada escura... sombria de tão deserta que estava. Mas nada que me fizesse recuar. Tamanho era o meu sentimento de repulsa!
Ao passo que reduzi minha velocidade, desdobrei um mapa antigo sob o banco do passageiro. Visto que ainda tinha pouco mais de 2km para percorrer até alcançar o meu destino, arranquei como habitualmente fazia, deixando para trás a divisa com a fronteira.
Estava próximo. Havia acabado de adentrar uma cidadezinha mórbida na costa leste do Tenessee, onde lamentavelmente tive de estender minhas raízes quando jovenzinha. Até que perdi meus avós, vindo a conviver com minha mãe e o inconsequente do meu padrasto, aquele por quem procurei desde quando minha integridade fora arrancada de mim.
Devo-lhes dizer que havia tempos que ansiava por apanhá-lo e com minhas próprias mãos fazer daquele patife miserável em pedaços. Tudo o que eu queria – se fosse possível – era dilacerar-lhe o coração. Faltava pouco, e eu de algum modo sabia que não tardaria a encontrá-lo. 
Estacionei o carro, saltando em baixo de um velho posto de gasolina abandonado e decidi concluir o meu percurso a pé. Ao longe podia ver pouco mais do que dez casas situadas num lugar descampado e sem qualquer fonte de energia elétrica. Deduzi que não diferente de vinte anos atrás, os lampiões caseiros eram ainda a salvação para os moradores daquele pedaço.
Em passos lentos e tranquilos segui na direção do morro, cuja extensão era separada das ruas com uma enorme e enferrujada cancela. Assim que aproximei-me da parte mais alta do morro, fui bruscamente atingida pelas rajadas insistentes de vento. Permiti-me lembrar de alguns dos momentos da dolorosa infância que tive. Imediatamente fui invadida pelas piores sensações já experimentadas por mim até aquele momento. Aqueles becos apertadinhos, aquelas árvores; os portões de madeira... tudo trazia à tona as minhas mais temidas lembranças. Sequer lembro-me d’alguma vez que sorri sem que por dentro eu estivesse apavorada... destroçada em matéria dos abusos que sofria constantemente pelo companheiro de minha mãe todas as vezes que nos encontrávamos a sós.
Estava em um de meus momentos coléricos e estes costumavam ir muito além da consternação. Para transmitir com exatidão era difícil, uma vez que até os meus suspiros eram carregados pelo ódio exorbitado que sentia – e este beirava a ira.  
Alcancei a ultima casa rodeada por uma cerca incompleta de arame farpado. Rompi o portão que estava destrancado, reprimindo-me emocionalmente, tentando assim, encontrar algum motivo que mantivesse em mim uma porçãozinha de calma e equilíbrio. Meus pensamentos cruzavam-se dentro da minha cabeça. Estava começando a sentir dificuldades para respirar; sentia-me perder o controle e rapidamente ser tomada pela fúria.
Só conseguia pensar em acabar de uma vez com aquilo que me consumia. Taciturna, levei minha mão até a maçaneta da porta e empurrei-a com toda a minha força. Dali em diante, fui irracionalmente guiada pela cegueira até onde estava minha mãe abraçada com aquele avarento do inferno. 
Seus minutos estão contados!”, pensei, lançando-me entre os dois, enfurecida. Sequer dei-lhes tempo para notarem minha presença.
— Que diabos está fazendo aqui? – indagou minha mãe.
— Isso mesmo. O que faz aqui esse ser de outro mundo? — vociferou meu padrasto.
— Vim fazer o que haveria de ter feito há muito tempo! – retruquei. 
Tomada pela raiva que me consumia o cérebro e os pensares, fechei meu punho atingindo-o no nariz e em seguida a boca do estômago, levando-o ao chão; e antes que ele tentasse qualquer gesto de defesa, saquei de baixo de meu casaco o calibre que havia guardado todo o tempo para um momento preciso como aquele.
— Prometi a mim mesma que você pagaria por tudo que fez! – enquanto pressionava com força a arma contra sua cabeça, mantinha-o imobilizado abaixo de meu joelho direito, que lentamente tirava-o a oportunidade de continuar respirando. 
— Por Deus, o que está fazendo? Explique-me de uma vez o que está acontecendo! – replicou minha mãe, completamente estatelada, mergulhada em seu próprio pranto.
— Poupar-me-ei das explicações, mamãe. Não desperdiçarei sequer um segundo. Farei questão de que o ultimo tempo de vida deste homem seja o pior de sua vida. – guinchei-o, coronhando-o com a arma. – Por todas as vezes que prendeu-me em casa junto a cama... todas as vezes que abusou de minha inocência! – repeti os mesmos golpes, cobrindo-o com o próprio sangue. – Saia daqui de pressa! – ordenei que minha mãe deixasse o local e quando finalmente ouvi a porta ser fechada atrás de mim, tornei a observar com atenção a feição daquele por quem fui atormentada toda a minha vida; e por dentro, nutria um sentimento de pura repugnância... ódio. 
— Nunca teve coragem de nada. Foi e sempre será a mesquinha incapaz de levantar uma agulha sozinha. O que dirá a apertar um gatilho?
— Eu não tinha... mas veja agora: eu cresci disposta a compensar todas as tolices infantis que já cometi. – engatilhei o calibre, mirando-o certeiro no centro da rubra face que se aquietara na minha frente. — E essa é pela dignidade que você me tirou quando não pensou duas vezes antes de acabar com a minha vida.
E então eu pressionei o gatilho, provocando o disparo.
Não só me senti finalmente vingada, como arranquei de dentro do peito o compromisso que mantive comigo mesma por todos esses anos. Fiz não o que era certo; talvez nem o que deveria ser feito, e tendo plena consciência da conduta que me fora atribuída é que consegui dormir em paz, num pagamento infindo por um crime: um crime que valeu-me a pena ter cometido. 
Eu te amo, e nunca voltei atrás. Eu sei que vou continuar te amando, e renunciar não faz parte dos meus planos.

sábado, 7 de julho de 2012

V i v e r

Quero de pressa viver tudo o que tenho pra viver - para que eu possa viver sem compromissos? Para que eu possa viver. 

De que adianta?

De que adianta tantas coisas se não significam nada? De que adianta vir se não for pra ficar? Errar se não for pra aprender? Aprender se não for pra errar de novo? Sorrir se não for real? Chorar se não for de verdade? De que adianta dizer se não estiver sentindo? Sentir se não for recíproco? Esperar se não for fazer melhor? Exigir se não for garantir? De que adianta dizer se não é? Ou ser e não mostrar? De que adianta tudo isso se não for - verdadeiramente - nada?

Me ser acima de tudo

Sou alienada de mim e quero continuar me sendo. Quero cometer erros tolos e da minha melhor forma, ser capaz de reverter... aprendendo por cima de meus vacilos. Se tiver de ir dormir com a cabeça cheia e os olhos pesados por ter passado o dia chorando por algo tolo, quero acordar no dia seguinte, com um sorriso motivado por algo importante realmente. Eu quero espaço, quero tempo... para eu ser o que quiser e quando quiser... e como quiser. Eu quero me pertencer antes de exigir... eu quero me encontrar depois de me perder; eu quero dar vazão ao tempo, quero também fazer das minhas loucuras lembranças absurdas; errar o máximo e aprender ao extremo. Quero me prender para ter a oportunidade de me libertar do meu eu sempre que aprisionar algo que não sirva aos complexos do meu ser. 

Apenas ser o melhor

Veja: não digo que sou a pessoa certa. Escuta-me: estou dizendo que quero ser o melhor pra você. E se preciso, irei te conquistar uma vez... e outra e outra e outra e sempre.