A noite estava até que tranquila - ou devo dizer já madrugada? Se passara das três horas da manhã. O lampião fraco iluminava o livro de pouco mais de duzentas folhas a minha frente. Grilos cantantes, sons de animais noturnos: o preço que se paga por ter escolhido morar fora do mapa. Bem, não foi lá uma escolha feita, mas seria isso ou não ter um lar: fiquei por conveniência.
Alguns bocejos aqui, umas coçadelas ali e o tic-tac ensurdecedor do relógio soava como canção de ninar, por esta razão, logo começara bambear de sono. As letras começavam a dançar na minha frente, as páginas deveriam estar se movendo sozinhas; os objetos se afileiravam... os móveis também se movendo sozinhos.
Alucinações?
Está escurecendo... escureceu. Está tudo preto. Cadê todo mundo?...
... Tremedeira. Fogo. Muito calor. Calor. Está esfriando agora... Esfriou. Tem um casaco?
Onde estou?... Cadê todo mundo?...
... Cadê... todo... Cadê todo mundo?
A visão voltava... aos pouquinhos; a luz cintilava menos. Pupilas dilatadas, ombros pesados, respiração entrecortada, pulsando a mil por hora.
Não deveria ser nada. Hora de ir pra cama.
O livro. Ainda aberto sob a escrivaninha. O lampião, quase apagando. E o fogo? Onde estaria o fogo? Cadê todo mundo?
Na cadeira, o suor desenhara o formato do meu corpo; a luz que me iluminava duraria até eu me deitar. Funcionou. Apagou.
Tudo escureceu outra vez.
O lençol de seda cobria meu corpo até o pescoço; tremedeiras ao invés de arrepios. A temperatura ambiente dera imediatamente lugar ao mormaço: calor. muito calor. Luzes faiscantes no reflexo da janela. Arrepios me percorrendo lentamente as entranhas. Mais um lençol, por favor? Eu tenho frio.
Agonia dilacerante.
Foi quando veio a luz. Para onde está me levando?
Onde eu estou? - clarão - Cadê todo o mundo?

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