Passava por ai, desolado, sentimental. A estrada revestida
com as folhas esvoaçantes, talvez perdidas. Sob o sol que iluminava aquela
tarde de primavera, a brisa suave vinha sutil e lentamente acariciar-me a face
serena, tranquila e pra lá de iluminada.
Caminho aquele que, percorria muitos e muitos anos seguidos;
que conhecia muito melhor do que as fases de minhas circunstâncias. Guiado pela
minha própria liberdade e acompanhado por uma solidão costumeira e
impremeditada, eu fazia um trajeto há muito decorado.
Chutava uma pedra aqui, outra ali. E lá apanhava uma rosa. Bem
me quer, mal me quer; iam-se as pétalas, apostadas em um sonho incerto, um
desejo concreto. Bem sabia que viria, não sabia quando. No entanto, não parava
nunca. Bem me quer, mal me quer. Prosseguia assim. Com um sorriso e nenhum
tostão no bolso. Tão rica essa simplicidade que a vida esbanjava, que ser
humano nenhum ousava contrariar.
Aproximava-me dum riacho, cuja extensão rodeava um dos
ranchos mais bonitos de todo o pedaço -, instalado num belíssimo e agradável ambiente
generosamente arborizado, de onde podia observar nitidamente a donzela mais
bela de toda a redondeza.
Nem as rochas cinzas pelos arredores conseguiam cobrir tão
primorosa beleza; nem as cristalinas águas escondia tamanha delicadeza. Os
cabelos louros percorriam-lhe os ombros nus. A pele branca e brilhante
contrastava-se sob os raios do sol; um sorriso doce, tão doce que podia sentir
na pele a sua maciez.
Seu olhar acarinhando-me o coração, o fulgor emitido e
penetrado em meus poros; o perfume a ser confundido com o aroma suave das
rosas, das flores; a textura colorida que a cobria enquanto levava tão
descomplicadamente a vida, invadia-me o ser, o consciente. Sua sede de viver
enchia-me de um desejo curioso, da vontade de beijar o destino como se a
promessa fosse sempre da felicidade absoluta... e quase absurda, como a que eu
sentia naquele momento – o que passei a chamar de glória, de sonho, de amor, de
viver – e que tornou-se tão rapidamente o meu próprio fundamento de vida quando
conheci a donzela do rancho das colinas adormecidas. E se não um amor
silencioso, o que era? O que era que por ela eu sentia... silenciosamente?
